Terás tempo

Terás tempo

“O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem; o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto o tempo, tempo tem”.

Quem não se lembra de tentar dizer esta lengalenga, ou uma parecida, na escola? Esta rábula sobre o tempo contém uma verdade intemporal e que muitos de nós enfrentam: a aparente falta de tempo para realizarmos tudo aquilo a que nos propomos ao longo de um dia, de uma semana, de um ano, etc. Digo aparente porque a idade faz-nos perceber que nem sempre a falta de tempo é por culpa do tempo em si, mas da forma como o usamos. Quando começamos o novo ano, fazemos planos e prometemos a nós mesmo que vamos ter tempo para fazer coisas que, anteriormente não tivemos. Mas 2020 terá os mesmos 365 dias que 2019 teve. O dia tem 24 horas para toda a gente e todos as usam de forma diferente. Mas, de uma forma ou de outra, todos se queixam que não têm tempo para certas coisas. A fadista Mariza canta que “o tempo não pára. O tempo é coisa é coisa rara e a gente só repara quando ele já passou”. Mas será que temos mesmo tempo para tudo?

Nem o facto de morarmos numa metrópole, como o Porto, é justificação. Aqui, dizemos nós, para conseguir fazer tudo o que temos para fazer, precisamos gerir ao máximo o tempo e espremer cada minuto até à última gota. E, mesmo assim, não temos tempo para fazer certas coisas, que, mais tarde, nos arrependemos de não as ter realizado. Precisaríamos de nos mudar para um lugar mais calmo, mais pacato, argumentaríamos nós.

Mas olhemos para a vida numa aldeia, ou numa pequena cidade, onde, supostamente, tudo se desenrola a outra velocidade; onde se é vagaroso na estrada, na fila do supermercado; onde parece que há tempo para tudo. Nesses locais, os desempregados também “não têm tempo” para procurar emprego; muitos pais “não têm tempo” para ser carinhosos para os filhos; e muitas pessoas alegam “não ter tempo” para refletir em Deus. Tempo há. A culpa, como dizia o outro, é da vontade. Bem vistas as coisas, até num local em que tudo anda à velocidade do caracol, o problema não está no tempo. É tudo uma questão de prioridades.

O tempo que Deus nos deu para viver é este mesmo: 24 horas por dia, 7 dias por semana, etc. Nem mais, nem menos. E, felizmente (para não termos mais controlo sobre as coisas do que já temos), nem temos o direito a saber quanto tempo temos nesta vida. Essa é uma decisão que só a Deus pertence. É por isso que a Bíblia nos aconselha a fazer uma gestão eficaz do nosso tempo e a estabelecer prioridades. Se estás na faculdade, trabalhas ao mesmo tempo, tens namorado/a e ainda as tarefas da igreja e parece que vais explodir, estabelece prioridades. O que é mais importante para ti? O que vale o teu tempo? Se calhar, está na hora de deixares algumas coisas para trás e focares-te noutras, sendo que a prioridade máxima na nossa vida deverá ser sempre o nosso relacionamento com Deus. Escusado será dizer-te que nós somos a prioridade da vida Dele.

Não é à toa que a Palavra de Deus nos diz que tudo tem o seu tempo e que há tempo para todo o propósito debaixo do céu (Eclesiastes 3.1). É tudo uma questão de prioridades. Entrega o teu tempo a Deus, para fazeres dele o melhor para a tua vida e para O agradares. Na sua obra-prima, “O Senhor dos Anéis”, Tolkien parafraseou Eclesiastes numa conversa entre Gandalf e Frodo. A certa altura, Gandalf diz: “o que realmente importa na vida é o que tu fazes com o tempo que te é concedido”. E tu? O que estás a fazer com o tempo que Deus te deu? Como vais gastar o teu tempo neste novo ano?